quinta-feira, 2 de junho de 2016

Marca


Passo,
Cicatriz,
Compasso,
Desfaço aquilo que te faz feliz.

Marca a terra,
o teto, o leito
Marca o peito,
o chão de giz.

Marca o pingo,
o trinco, o gringo.
Desce a gota, a moça
Sente a voz e cala.
Repara, esconde a vossa roupa.
Anota o nome do som,
do bom, do tom.
Chama o menino pra dançar.
Marca a infância,
a criança, a trança
as vestes, a venda,
a fenda que se fez
quando a menina pulou o muro,
sentou na calçada,
chorou no escuro,
fora abusada.

Escuta o choro,
aperta os dedos,
ajoelha,
reza, mas não diz nada.

Ouve o grito,
transforma em mito,
em estatística calada.

Não cabe mais na minha alçada,
menina mimada que não se porta,
ninguém se importa,
se foi jogada, mordida, batida,
se foi abuso, coitada.
Saia amarrada, vestido curto
uma nova fenda que se fez.
Mais uma vez na calçada,
descreditada, sem importância,
não mais criança, fora estuprada.

Chorou calada a marca registrada.

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