terça-feira, 2 de março de 2010

Que fique o amor em primeiro plano, por favor.

O tema deste texto é sobre algo que carece de referenciais positivos para boa parte das pessoas. Trata-se da adoção de crianças por casais homo-afetivos.

O hábito mental preconceituoso das pessoas faz com que elas se coloquem numa posição sistematicamente contra ou a favor esse ou aquele assunto, esquecendo-se que por trás das opiniões concebidas sem experiência de vida, existe seres-humanos que sentem os mesmos sentimentos que você. Boa parte das pessoas que se dizem contra isso ou aquilo, nunca tiveram contato real com uma família homo-afetiva, o que demonstra uma falta de hombridade no julgamento, que se baseia sempre em suposições. Algumas pessoas se posicionam contrárias à adoção de casais homo-afetivos por opiniões meramente preconceituosas ou sem fundamento.

Algumas delas são:

1- Se a criança for adotada por casais homo-afetivos, ela se tornará homo-afetiva também.

Isso carece de fundamento lógico, pois a maioria das pessoas homo-afetivas de hoje foram criadas por casais hetero-afetivos e nem por causa disso são orientadas para essa ou aquela afetividade e sexualidade. Isso seria o mesmo que dizer que crianças adotadas por um pai e uma mãe necessariamente vão ser hetero-afetivas, o que não é verdade. Nossa sexualidade é basicamente inata.

2- A criança sentirá falta de um referencial de pai e mãe

Essa é uma questão interessante, pois será que crianças criadas por um pai e uma mãe têm necessariamente bons referenciais? Olhem os usuários de drogas, bandidos, ditadores, torturadores, milicianos – quase que 99,99% são criados por pais hetero-afetivos. Então será que a orientação afetiva dos pais afeta caráter da criança? Ou são questões muito além disso?
Além do que, estamos falando de crianças que estão em orfanatos e ao que me consta, essas mesmas crianças foram geradas e abandonadas por pais heterossexuais.

Onde você acha que ela terá os melhores referenciais, numa família de amor ou num orfanato com outras crianças e quase sempre mal-tratadas? Acha que abandonadas num orfanato elas terão um referencial de pai e mãe? Ora, há tantas mães que foram abandonadas por maridos heterossexuais que preferiram a amante e fazem o papel de pai e mãe ao mesmo tempo! Será que essas crianças cresceram com “traumas” ou com menos caráter e amor? Será que uma criança ser criada por pais heterossexuais é necessariamente sinônimo de que ela será amada e terá bons referenciais? Olhe ao seu redor e veja que não é bem assim.

Portanto, os referenciais de masculino e feminino, de pai e de mãe, eles são passados de alguma outra forma, seja por parentes próximos, amigos, filmes, livros, escola, tal como acontece com todos nós. Pode não ser a situação ideal para a criação de uma criança, mas estamos falando de seres que já não tem uma família. Portanto, o que é pior: não ter ninguém ou tê-la de uma outra forma?

3- A criança pode crescer e não necessariamente concordar com a homossexualidade.

É uma outra questão interessante, pois a mente de alguns insiste em querer focar os casais de sexos semelhantes sob o aspecto sexual, sendo que a vida deles vai muito além disso. Os casais homo-afetivos são também homossexual vai ao cinema, homossexual namora, homossexual faz carinho, homossexual passeia, homossexual cuida dos seus filhos, homossexual trabalha, homossexual etc. Supere a sua obsessão com a sexualidade alheia. Você consegue. Nossa sexualidade é praticamente inata e é parte de todo um conjunto. E se uma criança crescer e não concordar com o modo como o pai trata a sua mãe? E aí? Ela vai bater nos pais ou desejar abandoná-los? E se uma criança crescer e não concordar com o pai ou a mãe seguir determinada religião? E aí? E se a criança crescer e não concordar que a mãe faça sexo oral no pai, e aí?

Vida íntima é vida íntima. O mundo não gira em torno da homossexualidade, pois isso é mais uma visão do observador do que dos próprios seres homo-afetivos. As crianças podem discordar dos seus pais em diversas coisas, mas isso a meu ver não é um motivo para se impedir que elas sejam adotadas. Até porque existem muitas crianças que não concordam com o comportamento de seus pais hetero-afetivos e todos aprendem a conviver com as diferenças.

4- A criança sofrerá preconceito na escola.

Sim! Graças às pessoas preconceituosas! E por que não tentar mudar isso com amor, diálogo, tolerância e boa-vontade mútuas? Será que sempre temos controle sobre a vida das crianças? Por que então perder a oportunidade de poder ensinar os outros a respeitar as diferenças e assim criarmos uma sociedade mais humana, justa e respeitosa para com todos? Existem várias crianças criadas em berço de cristal e que descambam para caminhos pra lá de tortos, assim como existem crianças criadas em pobreza e dificuldade que seguem um caminho muito digno.

Existem diversas crianças que sofrem preconceitos por serem gordinhas, negras, altas, afeminadas e todas elas aprendem a lidar com suas dificuldades. Dizer que é contra uma criança ser adotada só por causa do suposto futuro negativo que lhe é reservado por pais de sexos semelhantes, é ignorar toda sorte de efeitos deletérios que o abandono em orfanatos igualmente causa. A vida foi feita para ser vivida, superada e aprendida. Será que pais hetero-afetivos necessariamente garantem às crianças uma criação feliz e isenta de dores?

5- A criança sofrerá abuso por parte dos pais homo-afetivos

Isso sequer é uma argumentação que deve ser levada em consideração, pois isso só pode ser projeção da mente de observador. Afinal, onde uns vêem o amor entre seres humanos, outros vêem abuso sexual infantil. Ora, se o objeto é o mesmo, por que as pessoas enxergam as coisas de diferentes maneiras?

É só olhar para o lado que verá que boa parte dos abusos infantis familiares são cometidos por homens heterossexuais que estupram a filha, a sobrinha, a neta etc. Boa parte dos estupros são cometidos por homens heterossexuais. Portanto, orientação afetivo-sexual não tem nada a ver com potencialidade maior para abuso, mas sim o caráter da pessoa, que independe de orientação afetiva.

Por fim, não sou contra ou a favor a adoção por casais-homoafetivos, porque isso é algo que não deve estar em questão. As pessoas não podem ter o direito de decidir pela vida de outros seres humanos, uma vez que boa parte delas tem preconceitos, ódio, raiva aos seres homo-afetivos e nunca tiveram contato com pessoas assim, com sua realidade, seus anseios e angústias.

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Se a família é a célula-materna da sociedade, o amor é a célula-materna da família. Sei que este modelo familiar foge ao padrão que muitos estão acostumados, mas por que não dar uma chance para crianças abandonadas serem adotados por pais ansiosos para cuidar de alguém? Com tanta gente no mundo, com tantas dificuldades econômicas aí, será que a prática do heterossexualismo (sic) é mais importante do que o amor entre os seres-humanos? É mais importante do que a educação de uma criança? Será que a prática sexual entre um homem e uma mulher é mais importante do que pais que podem cuidar de uma criança quando ela estiver doente, do que a possibilidade de alguém que foi abandonado ter uma família que o acolha?

Dificuldades, todos terão, sejam casais homo-afeitvos ou hetero-afetivos. Afinal, por detrás dos rótulos, todos somos seres-humanos, com nossas dificuldades, obstáculos, desafios e realizações pessoas. Há muitas crianças infelizes sendo criadas por casais hetero-afetivos e muitas crianças podem ser felizes ou tristes sendo criadas por casais homo-afetivos. Mas vou deixar uma questão par ao leitor pensar:

Mesmo com todas as dificuldades que as pessoas lhes impõe, muitos homens e mulheres homo-afetivos ainda lutam para conseguir adoção. O que move o coração dessas pessoas, que enfrenta um mundo para dedicar sua vida a uma criança, senão o mais profundo amor? Você acha que só o seu modelo familiar é o certo? Isso não é um tanto quanto egoísta?

Se essas palavras não foram suficientes para te mostrar uma outra forma de ver o mundo e você acha que só uma família homem e mulher são responsáveis pela felicidade das crianças e não se importa com as várias crianças que vão crescer em orfanatos, tudo bem. Se você acha que apenas essa mentalidade pode trazer a felicidade aos seres humanos que compõem a sua sociedade, tudo bem. Talvez você tenha motivos dignos que são desconhecidos por mim. Mas só o que eu lhe peço é boa-vontade e abertura mental para ouvir e entender o coração do outro.


Se você não é capaz de entender o coração e o amor das pessoas e foca sua cabeça no sexualismo alheio e acha que dessa maneira encontrará felicidade para ti e para os outros, tudo bem também. Talvez você não seja mesmo capaz de entender o outro e de mudar a ti mesmo.

E para fechar, deixo meu leitor com as palavras de Renato Russo, um dos maiores poeta que o Brasil já teve e a quem devemos tanto.

Perfeição:

Venha! Meu coração está com pressa.
Quando a esperança está dispersa.
Só a verdade me liberta.
Chega de maldade e ilusão. Venha!
O amor tem sempre a porta aberta
E vem chegando à primavera
Nosso futuro recomeça
Venha! Que o que vem é Perfeição!...

Pais e Filhos:

É preciso amar as pessoas
Como se não houvesse amanhã
Por que se você parar
Pra pensar
Na verdade não há...

Eu realmente desejo uma sociedade mais justa, igualitária, sem preconceitos e baseada no amor. Esse é o futuro que recomeça. A esperança carrega nossos sonhos mais caros. E acredito que com amor, boa-vontade e diálogo podemos mudar as pessoas e a nós mesmos.


Se você acha que a homo-afetividade é algo imutavelmente imoral, pelo menos deixe que isso seja um problema para ser resolvido entre Deus e as pessoas. Na Terra, busque fazer o seu melhor para a felicidade das pessoas, afinal, sua felicidade dependendo necessariamente daquilo que você deseja ao outro.

“Paz na Terra aos homens de Boa-Vontade”

(retirado do blog Adquira conceitos e não preconceitos)

Um comentário:

  1. Bom,..eu não tenho um ponto de vista formado sobre o caso. Mas gostei muito das suas colocações!
    Inté!

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